Como podemos trabalhar com a nossa história de vida numa sala de aula? Algumas considerações sobre história oral, local, e fontes visuais
Giovanna Pezzuol Mazza
Nº Usp 5936441
“Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”
“Comigo as coisas não tem hoje e ant’ontem amanhã: é sempre”
João Guimarães Rosa
“Fala-se tanto de memória porque ela não existe mais”
Pierre Nora
“A história é uma ilha de edição”
Waly Salomão
Quando iniciamos numa sala de aula um curso de História, o que será que vem a mente dos alunos, num primeiro momento? Podemos pensar que essa resposta é bem diversificada, mas com certeza reflete contatos anteriores do aluno com o tema. Com certeza a história difundida pela mídia, pela televisão principalmente, pelos pais, pelos avós, pelos amigos, pela propaganda. Uma história que é, em muitos momentos, pasteurizada, homogênea, sedutora. Será que um aluno acreditaria que sua história de vida, a de seus pais, avós, a história do seu bairro, é uma história que merece ser contada?
Do vermelho ao negro: Uma sequência didática em três atos
Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
DO VERMELHO AO NEGRO Uma sequência didática em três atos
São Paulo
Outubro
2014
Arthur Major de Sousa – NºUSP 7618377 e Pedro Stapf de Souza – NºUSP 7619301
DO VERMELHO AO NEGRO Uma sequência didática em três atos
Sequência didática apresentada à Profª Drª Antonia Terra para o curso de Ensino de História: teoria e prática.
Do Vermelho ao Negro
Uma sequência didática em três atos
Introdução
Há 50 anos do Golpe que depôs Jango, instaurando um Estado de Sítio e uma sucessão de governos militares que abortaram a agenda de reformas sociais e solaparam as liberdades individuais e de manifestação política, nos deparamos com o convite de propor uma sequência didática cujo pano de fundo é a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). O momento é propício. Não apenas em função da data histórica, mas também pela instauração da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a partir da lei sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 2011, que visa abrir os arquivos e apurar as violações aos Direitos Humanos cometidas nesse período. A despeito das inúmeras falhas da CNV - em não quebrar o sigilo do alto escalão do exército, não propor uma revisão da Lei da Anistia de 1979 e nem punir os crimes praticados pelo Estado brasileiro e por agentes desse durante os governos militares, à exemplo de outras nações latino-americanas como a Argentina e o Chile - ela iniciou um debate muito importante na sociedade brasileira sobre verdade, memória e justiça, que precisa ser inserido na sala de aula.
O espaço para tanto seria as aulas de História do Brasil, no entanto encontramos uma série de dificuldades para abordar esse tema. Como aponta Circe Bittencourt1, a História do Brasil atualmente se encontra diluída nos materiais didáticos na chamada “História Integrada” e sua dinâmica interna não raro é reduzida a um produto de processos exógenos, superiores e inexoráveis que determinam nossa trajetória. Neste atual modelo, onde a História dita “Geral” se sobrepõe em importância e quantidade à História nacional nos manuais didáticos, falta espaço na diminuta carga horária da disciplina para a História do Brasil Contemporâneo, em especial do período
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1 BITTENCOURT, Circe. “Identidade nacional e ensino de História do Brasil” em KARNAL, Leandro
(org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Editora Contexto, 2003.